domingo, 29 de março de 2009

Saudade ou Sehnsucht?


Como dizia o meu genial Professor Paulo Sedim: “Hoje vou expor e não quero ser interrompido!”.

Devem, neste momento, os meus Amigos estar a pensar que vou aqui fazer um relambório de tudo aquilo quanto tenho saudades… Podem estar descansados que não! Eu disse que ia expor, não disse que ia expor-me…

O presente post serve, apenas, para desmistificar uma ideia bacoca que pulula no espírito da maioria dos portugueses: que a Saudade é um sentimento exclusivamente português e que ninguém mais pode ter a pretensão de o entender ou descrever.

O interesse do tema é este: estava este vosso Amigo à conversa com um vetusto alemão, de fino recorte intelectual, quando lhe decidi dizer que tinha “saudades” de algumas coisas que tinha deixado para trás, acrescentando que dificilmente ele iria perceber tal “coisa”, uma vez que tal conceito extravasava, em muito, o simples “missing” inglês. O meu interlocutor esboçou um sorriso e disse-me que percebia perfeitamente porque eles, os alemães, têm o Sehnsucht. Fiquei intrigado, pedi-lhe indicações e decidi ir informar-me sobre a coisa.

Por sugestão, comecei pelo Thomas Mann, no “Morte em Veneza”, onde é possível ler-se: „die Sehnsucht ist ein Erzeugnis mangelhafter Erkenntnis.” que, em bom português, significa que “a Saudade é um produto da falta de conhecimento.”. Embora não descreva o conteúdo do conceito, o Mann apanhou, como poucos, a essência, a génese da “coisa”… Assustei-me e não quis procurar mais…

Prefiro continuar com a ideia que, ao lado do Eusébio, está essa "coisa" só nossa, a Saudade…

Para matar as saudades, umas imagens do King:


terça-feira, 24 de março de 2009

A EMEL de Munique...

Uma multa de estacionamento! Já cá faltava…

A história é muito fácil de resumir. Acabadinho de chegar a Munique, estacionei o carro em frente à porta de casa e, quando voltei, tinha isto:

Até aqui nada de novo… Isto acontece todos os dias em Lisboa. Aqueles senhores de farda verde, cuja autoria, à avaliar pela qualidade estética que encerram, só pode ser atribuída à Fátima Lopes, fazem exactamente o mesmo.

O benévolo leitor deve, neste momento, estar a pensar: “Será que o estúpido não viu os parquímetros?”.

Meus Amigos: vi os parquímetros e até vi esta placa:



Mas, como bom português que sou, ignorei! Qualquer bom português ignora um sinal de “proibição de estacionamento” sempre que, cumulativamente, estejam preenchidos os seguintes requisitos: o sinal não permitir a manobra de estacionamento que pretendemos fazer e, segundo e mais importante, sempre que o sinal em concreto, naquele local, seja uma estupidez, o que acontece sempre que o sinal não permite a manobra de estacionamento que pretendemos fazer…


A malta que ande a tirar carta condução não pode levar a sério o parágrafo anterior antes da realização dos respectivos exames de código e condução. Desta forma, declinamos toda e qualquer responsabilidade se, porventura, o insucesso nesses exames se ficar a dever à má interpretação deste sinal em concreto.


Mas agora é que vem a parte metafísica da coisa… Esta multa deixou-me feliz!


Fui multado com estilo e glamour! Apanhei uma multa que vinha dentro de um saquinho plástico! Ora vejam:

Confesso que esperava que o saco estivesse hermeticamente fechado e, quem sabe até, pasteurizado… Mas vá… Aceita-se!

Mas fiquei ainda mais feliz porque tive um (a palavra que se segue é para ser lida com sotaque brasileiro) gostinho de Portugal: o prazer de, conscientemente, infringir uma regra! Reparem como a frase soa bem melhor…

Mas a felicidade rapidamente se esboroou quando pensei que, nos restantes nove meses da minha estadia, o cenário da multa se ia tornar quotidiano... Olhei para os carros em volta e vi que todos tinham um dístico de estacionamento! Pensei logo algo que não posso escrever, mas que na sua versão Vitinho, um sucedâneo light e também apropriado para menores, é qualquer coisa do género: “Estou bem arranjado!”. Se as coisas fossem como em Lisboa, teria de me dirigir à EMEL, preencher 23 formulários, entregar 12 fotos tipo passe, bem como mudar o cartão de eleitor, o número de contribuinte, o cartão do clube vídeo e mais uns quantos outros para a minha zona de residência em Lisboa. Pode ser que lá para Fevereiro de 2011 a coisa se resolvesse…

Minhas Senhoras e meus Senhores, o meu dístico de residente:

Preenchi um formulário com o nome e duas cruzes. Et voilà, o dístico, perdoe-se-me o plebeísmo, “já cá canta” (este et voilà é para a “malta” não se queixar que aqui só se escreve em alemão)!

O Simplex deveria ser isto, simplificar a vida às pessoas e não complicar a vidas aos velhinhos que não têm internet… Sócrates, se me lês, dá um pulinho a Munique, trás um Magalhães e a Leitão Marques, o cérebro por de trás do “teu” programa Simplex, e tentem, por favor, perceber que a simplificação de procedimentos não é só preencher formulários na internet! Consta que antes de haver internet já havia desburocratização e simplificação de procedimentos…

Já agora, um pedido: não tentes vender o Magalhães a ninguém, os Portugueses por cá já não são muito bem vistos, imagina se os alemães descobrem que a “tua” grande e inovadora medida que vai pôr os meninos da primária a escrever, decorar a tabuada e a fazer contas é o Magalhães! Temeria represálias e a expulsão do Instituto onde estou! Isto é terra de gente séria…

E mais, não dês a desculpa que não falas alemão... Por cá toda a gente fala Inglês Técnico!


quinta-feira, 19 de março de 2009

Institut für Internationales Recht und Rechtsvergleichung: Zimmer 312

Para hoje, proponho uma visita guiada pelo meu local de trabalho!

O meu gabinete fica porta com porta com o gabinete do patrão, o Prof. Stephan Lorenz. Isto tem os seus Vor- e Nachteil... Mas, pelo menos, obriga-me a picar o ponto bem cedinho! O maior inconveniente da coisa é exactamente esse, estar lá cedinho…

O Prof. Lorenz é das novas “estrelas” da doutrina alemã, um feroz adepto do Bayern München e, mais importante que tudo isto, uma pessoa bem simpática, acessível e sempre disponível.

Para terem uma ideia, o Prof. Lorenz quer organizar, muito em breve, uma prova de vinhos aqui no Instituto: eu tenho de levar vinhos portugueses, o Frank, um dos Assistentes, terá de trazer os franceses. O Prof. vai trazer os vinhos alemães e os copos! Espero que, no mínimo, sejam uns Schott Zwiesel ou uns Riedel… Acho que vai convidar o Prof. Eidenmüller e o staff do seu Instituto, que, ao que consta, é bem interessante (para os mais informados, o referido staff é do tipo Vieira de Almeida). Aguardamos com expectativa!

O gabinete do Prof. Lorenz:


Este é o meu gabinete, o Zimmer 312:






Esta é a vista da janela do meu Zimmer, no entanto confesso que tenho saudades da vista do meu gabinete de Lisboa: o parque de estacionamento da Católica...


Olha os meus bebés:



Logo ao lado do meu Zimmer, tenho a Frau Haustein, a secretária do Prof. Lorenz. É uma Frau bem simpática, sempre disposta a ajudar “o português”. Ontem, por exemplo, tirei uma fotografia à minha máquina de levar roupa e pedi-lhe para me traduzir as diversas funcionalidades da mesma, tarefa que cumpriu com enorme zelo e profissionalismo!

Obviamente que me deram a Schlüssel do Instituto, não vá eu subitamente ter uma incontrolável vontade de ir estudar num sábado à noite e não ter como entrar…

Será este um local a visitar por algum dos meus amigos que passe por aqui? Depende do staff do Eidenmüller…

domingo, 15 de março de 2009

Hohenzollnerplatz

Apresento-vos:


A Hohenzollnerplatz é o local onde este Vosso Amigo tem o seu domicílio. Ela tem e faz tudo, parece uma bimbi… Tem árvores, banquinhos, velhinhos (ainda não vi o Velhão, mas com as preocupações ambientais dos alemães, “ele anda por aí”) um Plus (recentemente acusado, juntamente com o Edeka e o Aldi, de dumping – se isto não é responsabilidade social das empresas em tempo de crise, o que é? O guarda Abel iria perceber a subtileza do comportamento destas empresas…), dois cabeleireiros, estação do U-Bahn (metro) e de Tram (um eléctrico civilizado). Todo um mundo…

Quem quiser saber mais, tem de vir cá… fica o convite!*

No entanto, fica o aviso, marcar dormida no meu Wohnung é quase tão difícil como arranjar mesa no El Bulli… Restam, assim, duas hipóteses, tal como no supra referido estabelecimento de comidas e bebidas: ou se marca com grande antecedência ou se arranja uma cunha (esta palavra não tem tradução em Alemão, sendo que a palavra mais aproximada é Verderben e significa corrupção).

*Trata-se de uma invitatio ad offerendum e não de uma verdadeira proposta contratual. Para quem estiver menos familiarizado com o “juridiquês” da coisa, fica a tradução: Em minha casa mando eu e só cá vem quem eu quero, não pensem que é só dizer: “eu vou” e já está!

Apresento-vos, agora:


O Hohenzollnerplatz é, também, o nome deste meu blog! Não admito qualquer comentário quanto à originalidade da escolha, mas a coisa poderia ter tido um nome bem pior, tipo: euemmunique.blospot.com! Agradecemos à “malta” que, em bom tempo, nos fez ver como tal nome seria ridículo…

O que esperar deste blog? Não muito! Para se chegar a tal conclusão bastará pensar que o blog é meu (Eu = Fernando Sá/Eduardo Sá/Fernando Eduardo Sá/ Eduardo Oliveira e Sá/fos/Edu/Nandinho, a doutrina diverge, havendo que registar que o critério da latitude geográfica tem aqui algum peso. Em Leiria sou um, em Lisboa outro, havendo ainda que, nesta última, distinguir entre ambientes mais, ou menos, formais e os completamente informais…).

Não esperem que deste blog saiam grandes reflexões filosóficas ou texto de grande recorte literário…

Espero, apenas, conseguir fazer um blog melhor do que o Vital Moreira no que toca aos “índices de situacionismo” (sobre o conceito vide o abrupto, o blog do Pacheco), que espero manter baixos; tão bom como o do Vital no que concerne aos “índices de comicidade” (sobre o conceito vide um sketch do Gato Fedorento onde, expressamente, o mesmo é explicado); no que toca ao índice estético, são necessárias duas chamadas de atenção: a primeira, eu não tenho bigode e, a segunda, o fundo do meu blog é propositadamente preto, ao passo que o do Vital é branco porque ele tem uma doença rara e onde vê branco dantes via vermelho e agora, com o passar dos anos, vê cor-de-rosinha “freelancer” (o camarada João Tiago veria fuccia).

Estavam à espera que eu tivesse uma Ana Gomes??!! Os aviões para Guantanamo não passam por esta bonita Platz e ofendem-me se pensam que eu me dou com esse tipo de gente...

Assim sendo, este blog tem apenas como intuito contar alguma parte do meu dia-a-dia aqui por Munique… Quem não gostar, tem bom remédio: não apareça! Quem aparecer e gostar, que vá fazendo uns comentários. Quem não gostar, mas ainda assim insistir em aparecer por cá, que faça também uns comentários, nem que seja só para me criarem a aparência que gostaram. Aqueles que uns dias gostarem, mas outros não, lembrem-se que a vida tem altos e baixos e que em Munique está frio e vão ver que, nem que seja por misericórdia, vão comentar. Em suma, o importante é comentar.

Isto está feito a pensar em vocês, os meus Amigos, se deixarem isto morrer… eu pago as despesas do funeral com a bolsa da FCT!